SABER PERDER
De que adianta querer ser perfeito,
E se enquadrar em cada padrão repetido ?
E escancarar qualidades, escondendo o defeito
De não sermos quem nós temos sido ?
Se a perda é parte de nossa estrada,
Como risco inerente à humana trilha,
Em tudo, há mesmo vestígios do nada,
Na alma que brada, no sonho que brilha !
E, sem calma, a tristeza simplesmente nos vem,
Correnteza infinita de versos errantes,
Dispersos na luz, entre o mal e o bem,
Haverá campeões nos pesadelos distantes ?
Não, quase nada é troféu de risos fugazes,
Olha que o céu traz chuvas e glória,
Além da memória, dos pensamentos que trazes
Em teu sentimento de fracasso ou vitória,
Profusões sempre humanas de sonhos loquazes,
Corações e naufrágios no abismo da História !
E se tudo ainda desabar lentamente,
Além do céu, do mar, do mundo já sem calma,
No aparte incólume a essa dor da gente,
Verás que a arte é refúgio de nossa própria alma,
Além de toda a perda, além de toda a mente,
De repente, a luz que te couber na palma,
Nesta breve vida, leve ou displicente,
Arte que te abriga, que te envolve e acalma !
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"Em toda pessoa eu vejo a mim mesmo,
nem mais nem menos um grão de mostarda,
e o bem ou mal que falo de mim mesmo,
falo dela também. "
(Walt Withman, poeta norte-americano, 1819 - 1892)
Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 18/03/2008
Alterado em 20/03/2008