FOTOGRÁFICO RESQUÍCIO

Vislumbrei uma câmera para fotografar-te,

Amor eterno, nosso terno e transcendente ofício,

Tu és a nítida razão de toda arte,

Tu és o êxtase de uma aurora sem resquício,

Tu és a vida, no verso que combate

O rancor disperso no mundo, em desperdício,

Quando o coração escreve o sentimento que desate

A harmonia leve, caminhando sem suplício...

E, buscando um artifício, no fundo, que reparte

O sentimento abstrato que no vento havia,

Recriei o tempo incauto da verdade

E tirei do céu e da alma uma fotografia...

Pois quando o vento sussurrava à tarde,

Pedindo, além de uma ilusão vazia,

Que a vida pudesse ser bem mais que alarde,

O amor, de fato, reaparecia,

Além do insensato limiar que invade 

Esse mar da angústia, em cada breve dia, 

Nosso olhar nos pede, seja cedo ou tarde, 

Na vida, a mais autêntica fotografia.

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