RELAÇÕES INTERPESSOAIS: afeto ou consumo?
É curioso observar como muitos indivíduos confundem atualmente relações interpessoais, laborativas, familiares ou afetivas com relações de consumo, descartando pessoas como se fossem produtos com prazos de validade nos mercados de conveniências. A grande questão é que a vida não é um mercado e as pessoas não são produtos, o que soaria evidente dizer se a própria lógica utilitarista das coisas não estivesse subvertida em uma sociedade líquida de hipocrisia e de aparências. Os produtos servem às pessoas ou, cada vez mais paradoxalmente, as pessoas servem aos produtos?
A ironia preocupante disso é que as relações humanas estão cada vez mais superficiais e desumanas, em moldes utilitários do que cada um tem a ganhar, com base em aparências e prazeres efêmeros, sem tolerância à frustração e aos erros alheios, como se alguém fosse santo sem nenhuma falha e houvesse um mercado virtual de migalhas afetivas entre idealizações e expectativas desencontradas. Vivemos em um sociedade de relações virtuais ou de solidão digital?
Do mesmo modo que nós não temos obrigação de corresponder às expectativas alheais, os outros também também não possuem qualquer obrigação de corresponder às nossas expectativas, sobretudo quando não foram bem comunicadas. Exige-se do outro uma perfeição que não existe, o que remete ainda mais à mentalidade de consumo de produtos perfeitos e úteis o tempo todo, que só existem em propagandas. Vivemos em um misto de medo, incerteza, falta de afeto e desamparo, advindos muitas vezes de padrões familiares disfuncionais, que são repetidos entre as gerações e tendem a piorar com o tempo.
Nesse contexto, o célebre sociólogo Zygmunt Baumann muito explanou sobre a era da modernidade líquida e dos amores líquidos. Hoje talvez estejamos nos aproximando da era das relações digitais e dos pseudo - amores gasosos, que evaporam rápido entre névoas de incertezas, sem, talvez, terem existido na prática. Em outras palavras, os "amores líquidos" descritos por Baumann já estão indo para a fase gasosa, evaporando em rápidas interações virtuais antes mesmo de poderem ocorrer na realidade. Todos falam muito e pouco se escuta o outro.
Essa falta de boa comunicação e de generosidade social tende a gerar muitos problemas em vários contextos. Precisamos melhorar essa situação com cuidado e paciência, ainda que a médio ou longo prazo, exercitando mais a solidariedade, compaixão e a empatia em nossas relações interpessoais.
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