A ILUSÃO DO "MERCADO"
Quando lemos alguns artigos políticos, vemos que muitos endeusam o "mercado" como se fosse algo sempre eficiente e justo, o que é uma grande falácia, sobretudo em países subdesenvolvidos, nos quais tendem a funcionar mal tanto os setores privados quanto os públicos. Muitos enfatizam a dicotomia "Estado versus Mercado", sendo que ambos não funcionam, pelo menos em países subdesenvolvidos.
Simplesmente não fucionam bem nem o mercado nem o Estado. O mercado econômico tende a favorecer quem já é abastado, inclusive pelos juros exorbitantes, muitos deles já incluídos no preço do produto, transferido ao consumidor final. Para alguém desfavorecido chegar a ter condições de competir ou ser inserido com alguma ética e justiça no grande "mercado" econômico, já é uma luta desgastante e sem nenhuma garantia de retorno. Muitos falam da tal "mão invisível do mercado" como se fosse uma alguma espécie de milagre divino. Porém, deve-se considerar que, com todo respeito aos grandes clássicos, a referida mão invisível do mercado é um conceito de Adam Smith, de seu célebre livro "A Riqueza das Nações", publicado em 1776. O livro é um clássico, claro, sendo ensinado em muitos cursos e tendo uma base econômica e histórica fundamental. A questão é que já estamos em 2022 e muitos conceitos teóricos do passado são distorcidos de acordo com as conveniências de quem ganha mais. Não podemos simplesmente pegar conceitos econômicos e sociais, entre outros, de séculos passados para jogarmos no mundo bastante complexo de hoje, ainda com várias distorções do pensamento original, sem pelo menos alguma reflexão cautelosa.
Ademais, muito se fala em "privatização" como se fosse algo mágico, o que é outra grande falácia. Quando o Estado quer se livrar da incumbência de fornecer algum serviço, claro que é mais cômodo "privatizar", como se o mercado fosse um "santo milagroso" que tudo soluciona desde que você pague. Todavia, o fato de privatizar algo não necessariamente significa algo de bom para a população em geral. Pelo contrário, muitos serviços privatizados continuaram ruins e os cidadãos ainda têm que pagar caro, pois nada funciona. Na verdade, pagar algo atualmente pouco ou nada garante em termos de receber algum produto ou serviço de qualidade. Até os serviços sobre os quais muitos cidadãos pagam valores caros tendem a ser mal fornecidos ou nem sequer disponibilizados adequadamente, como é o caso, por exemplo, dos serviços de hospitais particulares, onde muitas pessoas morrrem e deixam parentes endividados com altíssimos custos mercenários de serviços mal prestados. Do ponto de visto neutro, o mercado e o Estado não necessitam ser demonizados nem santificados, sendo apenas instituições sociais, não precisando haver dicotomia entre esses fatores, se simplesmente pudessem funcionar com um pouco de equilíbrio.
O problema é que essas instituições não funcionam e muitas teorias forem pensadas em contextos idealizados, há muitos séculos ou décadas atrás, que não se aplicam satisfatoriamente ao contexto atual, sobretudo nos chamados países subdesenvolvidos. As teorias são importantes, sem dúvida. Mas, na prática, a realidade é sempre mais complexa e muitos fatores ultrapassam o pouco controle humano.
A questão da eficiência diante da realidade ultrapassa ideologias, sendo que, historicamente, nenhum sistema econômico funcionou adequadamente com justiça, nem o feudalismo, nem o socialismo, nem o capitalismo, tendo todos grandes problemas em vários contextos. É preciso pensar novas abordagens práticas, para além de discussões ideológicas sem fim, diante de novas realidades cada vez mais complexas. O mercado pode ser o paraíso dos mercenários, mas certamente é o inferno de muita gente desfavorecida. Muitas empresas cobram valores exorbitantes e não prestam serviços satisfatórios, ainda que sejam no mínimo aceitável. A realidade é que, no Brasil e em muitos outros países, tanto o "mercado" como o Estado simplesmente não funcionam com o mínimo de eficácia, justiça e proatividade, sendo que tanto os setores privados quanto os públicos ainda precisão de planejamentos consistentes para que possam melhorar, ainda que, com um pouco de otimismo, a médio e longo prazo. Precisamos pensar com cuidado, pois a realidade tem vários fatores complexos e intercorrentes. Enfim, somos pensadores e não meros fantoches de mercado, de Estado ou de qualquer instância que seja.
Fonte da imagem: https://viladeutopia.com.br/a-mao-invisivel-do-mercado-controla-o-estado-minimo-e-o-sistema-capitalista/
Fonte da imagem - citação: https://www.pensador.com/frase/MjQzOTUxMw/
Primeira citação: https://br.pinterest.com/pin/577586720937215247/
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