BELOS ROBÔS PRODUTIVOS ?

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Reflexões Literárias e Cultura

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BELOS ROBÔS PRODUTIVOS ?
por Juliana S. Valis

O mundo nos quer belos robôs produtivos e consumistas das infinitas coisas que a constante insatisfação deseja, num ciclo confuso e repetitivo de nada bastar... A lei é produzir sempre mais, nada questionar, reproduzir padrões seculares de hipocrisia, fingir não sentir emoções ditas negativas e aparecer mais ainda, julgando falhas dos outros e escondendo os próprios erros, talvez muito maiores. Mas quem sentirá o real cerne de nossa consciência ? Quem saberá o significado profundo de qualquer coisa, entre as dinâmicas engrenagens do tempo ?

Interessante (e cômico) é que hoje não basta saber, nem ser, nem ter, nem produzir, nem comprar, nem chorar, nem sorrir, nem trabalhar, nem consumir ou qualquer outro verbo, tudo isso não basta se o indivíduo também não parecer e "aparecer", verbo central das modernas conjugações em massa. Mas não somos esses belos robôs produtivos. Ao menos teoricamente, os robôs foram criados para servir às demandas da humanidade, dos serviços, do comércio e da indústria, e não o contrário.

A pré-história dos robôs - Revista Galileu | Revista

Fonte da imagem: https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2014/06/pre-historia-dos-robos.html

O grande problema é quando os objetos, meios, máquinas e instrumentos passam a ter mais importância do que o próprio valor atribuído aos sujeitos, tornando-se fins em si mesmos, numa hipnose de aparências em um mundo altamente utilitário. As questionáveis leis do mercado estão acostumadas a descartar sujeitos, infelizmente, com a mesma rapidez com a qual glorificam os objetos mais lucrativos. E essa mesma lógica utilitária se estende em vários campos da vida e da sociedade atual. Ocorre que as máquinas, robôs, objetos e tecnologias são ferramentas bastante úteis e excepcionais, trazendo grandes progressos científicos, mas precisam ser encaradas como meios e não como fins em si mesmas. Será o instrumento mais importante do que o seu operador ?

A ironia disso tudo é que, em algum nível, a criatura vira-se contra o criador: as máquinas que foram feitas para servir tornam-se, de algum modo, nossas mandatárias, em constantes updates de nosso "android" existencial. E, mais ironicamente ainda, temos que muitas vezes provar em sites na internet que não "somos robôs", em grandes redes de computadores, clicando em ícones e telas, mas o que seremos profundamente na vida real ?