ESTAÇÃO DA ALMA
Mar de olhares
Velejando nas cores sós
De uma estação da alma,
Enquanto o coração veloz,
Sem pranto ou riso que sempre acalma,
Perde-se na paixão que nós
Pensávamos como vulcão de sonhos...
Tristonhos versos de amor ileso,
No ar, dispersos, como nuvens vãs,
Nesses universos de ardor mais preso,
Instaurando a dúvida nas vis manhãs,
Sem desperdício de dias, dor, desprezo,
Onde está a paz das alegrias sãs ?
Pois toda alma clama, de perto, por justiça,
Por amor, afeto, além das aparências,
No ardor concreto que nos enfeitiça,
Transcendendo a dor de nossas existências...
E todo sonho clama, assim, pela vida
No verso que convida a velejar no tempo,
No vento mais disperso que nos elucida
O caminho que nos guie rumo ao sentimento...
Ah, verso que faz o dia se transfigurar,
Faça também da alma uma estação de luz,
Onde o bem seja maior que todo pranto, mar
De um encanto célere que o amor conduz,
Transcendendo a dor que a vida transbordar !
Abasteça a alma de amor,
Como nuvens que vagam sós,
Além do verso, além da dor,
Que se perde nos rios de nós,
Como anátemas sem cor,
Superando o céu tão veloz...
Abasteça o céu toda luz,
Como estrelas que brilham na alma,
Na constelação que já nos seduz,
Coração que bate sem calma,
Em busca de amor, sem a cruz
Intensamente misteriosa da vida...
E quando pudermos, sim,
Superar o ódio do mundo
No sonho, do começo ao fim,
Intenso, radiante e profundo,
Talvez o céu se renda à paz,
No escarcéu de tempos ilesos
E não mais presos à dor que nos traz
O desânimo que nos faz tão indefesos...
Erga amor a chama sem calma do verso voraz
E abasteça a alma com sonhos de perto ,
Aquecendo a estrada que a vida perfaz,
Curando a ferida de corações sem afeto !
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