VERBORRAGIA
Juliana Valis
Em plena noite de estação mais fria
Sangra o verbo em toda plenitude
Como esfinge que a ilusão trazia
Além dos labirintos que a emoção ilude
Incauto, o verbo chega ao hospital
E sem tratamento contra o verso tóxico
Sucumbe ao delírio mais transcendental
E se perde em átomos do amor, dióxido
Mas por que o verbo sangraria, assim,
Sem hemoglobinas de paixão voraz ?
Por que o verbo além da guerra e paz
Sucumbiria à dor do mais triste fim ?
Céus, por que toda essa verborragia ?
Hemorragia vã das plaquetas lépidas
Deste verbo "amar" em cada fim do dia
Deixando-me sem ar nas noites mais intrépidas...
Por favor, doe sempre vida ao verbo "ser" !
Não deixe morrer sem sangue outro verbo, "olhar",
Não permita que o simples ar de cada amanhecer
Quebre-se em mil cacos do que nos restar...
Por favor, doe sempre sonho ao verbo "rir" !
E não deixe esvair o sangue do verbo "transformar",
Transforme todo ódio que se enterra ali
E, no pódio, doe sangue a este verbo "amar" !
Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 04/02/2007
Alterado em 04/02/2007