ÓCULOS
Dizem que o amor é cego ou mentecapto,
Mas por que não vê-lo além dos óculos escuros,
Além dos ósculos da visão em rapto,
Perquirindo a sombra célere dos êxtases mais puros ?
Talvez, no fundo, nós é que sejamos cegos, obscuros,
Quando é preciso mergulhar no que há de mais profundo,
Como o amor que nos conecta às belas almas,
Escondemo-nos na mesma dor em que me inundo
E, assim, não vemos as ondas vãs ou calmas
Que se revestem de todo o amor que há no mundo...
Sim, talvez o amor não seja míope como sou
Talvez não use óculos escuros nem claros nem profanos
Perdidos nos átimos mundanos do delírio em cor
Como dor que se esvai nas sombras dos enganos,
Parcos desenganos da minha imagem que restou
Tão inerte entre tantas vertigens, sonhos, planos
Sempre acreditando sempre mais no amor...
Amor, além de mim, de nós, de tudo
Além do fim, da voz, do grito mudo,
Além das imagens e das parcas rimas,
E das miragens e das nossas sinas,
Perdidas, trôpegas, no mar de dor,
Eis na euforia ou na tristeza acima
O ar que se perde, suplicando amor.
E, no fim, talvez o verso peça a verdade,
Indagando à cor, que vem e nos invade,
Por que a vil cegueira existe no sonho atroz,
E talvez, assim, nós é que sejamos cegos,
Talvez o amor veja muito além de nós.
Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 26/01/2007
Alterado em 11/02/2007