POLÍMEROS
Juliana Valis
Não sejamos descartáveis !
Ainda que o mundo se faça de plástico
E se revista, a cada dia, de ódio,
A despeito do vento mais letárgico,
Não sejamos polímeros !
Descarte a raiva, mas não descarte o riso,
Descarte a máscara, mas não esqueça a essência,
Descarte a demência do que não é preciso,
Mas não descarte o ser humano neste vil abismo
Do consumismo parco e sempre mais frustrante...
Tampouco descarte os versos das fotos de outrora
Como universos do infinito adiante,
Que vagam ilesos, sem qualquer demora,
Em busca de sentido ao tempo mais gritante...
Não, por favor, nunca descarte o amor
Em função daqueles que se fazem de plásticas,
Diluindo no âmago de toda cor
Um resquício das modas mais fantásticas
Que, um dia, apenas desaparecerão...
Tampouco descarte seu coração
Que bate, ama, e não é produzido em série
Industrialmente, neste tempo em vão,
Como hardware de uma intempérie,
Impregnada nas coisas como elas são,
E não, apenas, como deveriam ser...
Não, não descarte mesmo em você
O sentimento que tem mais valor,
Neste mundo que já nos faz sofrer,
No altruísmo que reveste o amor,
Além do engima entre "ser" e "ter"...
Finalmente, não descarte a utopia
De ver o amor reinar sem sombra e sem calma,
E podem plastificar o nariz, a noite e o dia,
Mas haverá cirurgia plástica, no fim, pra alma ?
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Quadro de Salvador Dali
Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 22/01/2007
Alterado em 29/01/2007