ANACRÔNICO
Juliana Valis
Deveria ter perdido a imagem do dia
Quando a noite entregou-me a vida
Enquanto a memória desenhava versos
Bem no cerne da lágrima arrefecida
E, desde então, o que trago em mim ?
Um segundo de lucidez ?
Uma hora de verdades ditas ?
Um dia repleto de esperanças mal curadas ?
Uma semana de nostalgias fritas ?
Um mês de amores assados ?
Um ano de idéias servidas ao molho madeira ?
Uma década de frustrações cozidas ?
Um século de ideais perdidos
Nestes milênios de olhos trôpegos ?
Sim, isso tudo é factível neste tempo
Em que a bússola da alma simplesmente
Aponta para o sul dos sonhos sóbrios
Além do norte deste inconsciente
No qual a memória vaga e vaga,
Dança e se joga pelo abismo das desilusões...
Céus, meu coração é nada mais, nada menos
Que um relógio simplesmente anacrônico !
E ele não conhece horário de verão,
Nem de inverno,
Nem de primavera
Ou de outono,
Ele bate apenas, esperando
Que o tempo derreta
O milênio de dor
Desenhado em nós.
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Quadro de Salvador Dali, "A persistência da Memória"
Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 21/01/2007
Alterado em 21/01/2007