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CATACLISMO
Queria, ao menos, que a tristeza se esvaísse em sonhos
E que a vida sempre emprestasse alegria sem juros
Sem naufragar no caos dos versos mais medonhos
Sem velejar em naus nos mares mais escuros
Queria, ao certo, que a tristeza não me conhecesse
Nem me mandasse lembranças nos aniversários
Nem me aturdisse em momentos vãos como esse
Que se revelam tão céleres, insípidos, refratários
Ah, se eu pudesse ser apenas um pássaro livre
Voando sobre os montes que o desalento ergue
Não ia desabar na dor de cada vão declive
Ainda que eu quisesse tudo o que a vida negue
Mas o verbo querer não se conjuga apenas
Com a alma incólume a qualquer turbulência
Manifestando-se em doses nem tão pequenas
De insensatez, de dúvida, de incongruência
E aquela vã tristeza que surpreende tanto
Talvez seja apenas um sentimento intruso
Acalentando chuvas de sonoro pranto
Onde surgiria o sol e seu calor profuso
Então somente resta a luz como esperança
De que o arco-íris vença o crucial abismo
E analogamente ao sorriso de uma sã criança
Remova, enfim, a tristeza como um cataclismo.
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Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 13/01/2007