TÚNEIS AURICULARES
Eis-me, aqui,
Como fótons desvanecidos
No carbono dos túneis auriculares
Eis-me, aqui,
Vendo as manchetes dos jornais
Que um dia aprendi
A ler como flagrantes que jamais
Pensarão em si...
Eis-me, aqui,
Entre a dor e o riso fugidio
Neste tempo que corre como rio
Da violência de dias vãos
Entre altos e baixos da injustiça
Neste mundo que só enfeitiça
O ideal sublime, impregnado em mãos,
Cujo sonho redime nossa carne efêmera...
Sim, antes pensávamos em revolução
Querendo justiça social além de tudo
Pois tudo fere este incauto coração
Pois nem todo grito é mudo
Mas as pessoas que vêm, que vão
Sabem o perímetro exato da minha insignificância
E, assim, nessa inconstância, ficou meu riso, então...
Ah, tudo fere este coração incauto
Desde os homens-bomba até as mulheres tristes
Desde a fome sem armas até a arma do assalto
Desde o nome em que a corrupção persiste
Politicamente, tudo aflige esse coração incauto...
Pobre coração on-line,
De aurículas sóbrias em tempos bêbados
E ventrículos sensíveis a toda imensidão
De guerras nestas terras plenas
Como efeito estufa de mais um vulcão,
Irradiando estupidez em doses nada amenas
Em meio às intempéries, pobre coração !
E tu bem podes rir destes medíocres versos
Podes zombar, aqui, pois já não me importa,
Se o coração abre a porta aos mares mais dispersos,
Eis a liberdade lídima que me conforta !
Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 08/01/2007