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A INQUISIÇÃO DAS LETRAS
Ó, poeta, por que te afliges tanto
Com a dor de palavras vãs nem tão sublimes ?
Se não consegues dominar teu pranto,
Como explicarás o motivo de teus próprios crimes ?

Ó, poeta, tu mataste o verbo e o adjetivo
Em uma noite sem razão e sem perspectiva
Como se estivesses morto, mesmo estando vivo
No vácuo que a existência por si só cativa

Ó, poeta, tu caluniaste a dúvida e a demência
Acusando-as de corromper idéias nem tão puras
Em um mundo onde delira toda consciência
Em um mundo de imagens, símbolos, figuras

Ó, poeta, tu conspiraste contra o teu Estado
Agredindo o governo que a corrupção preside
Para fazer da república um puro principado
Para fazer do sonho um rei que não se elide

Ó, poeta, tu induziste ao suicídio a própria aparência
De quem tu quiseste ser, quando havia espelhos
Nas águas sãs e puras da mais sublime essência
Nas mais recônditas emoções de rótulos vermelhos

Ó, poeta, tu fizeste apologia ao amor eterno
Em tempos de paixões tão frívolas e passageiras
Acaso o coração não oscila entre o verão e o inverno ?
Acaso a emoção não se transfigura de mil maneiras ?

Mas, poeta, por que cometeste todos esses crimes
Se tu eras tão puro, casto e transcendental ?
Se a palavra é a razão que a ti mesmo imprimes,
Por que tu sucumbiste, atônito, entre o bem e o mal ?

Fala logo, poeta, qual será teu ignóbil nome !
Antes que as palavras possam condená-lo assim
A morrer sem arte ou a morrer de fome,
A sucumbir na exata parte onde começa o fim !

Declama alto, poeta, a tua derradeira rima !
Antes que as palavras te condenem à prisão do mundo
Por tempo indeterminado, eis a tua sina !
O futuro é um labirinto de teu amor profundo.

Juliana Silva Valis
Enviado por Juliana Silva Valis em 05/01/2007
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